1. A evolução do processo de cura
António (nome fictício), 49 anos, teve um diagnóstico de depressão há 3 anos, mas de acordo com o seu relato vive com problemas de natureza psíquica desde 2008. Deixou de trabalhar, vivendo enclausurado em casa e no seu quintal, desligado de amigos, vizinhos e familiares. Vai às consultas de psiquiatria de 4 em 4 meses.
Decidiu iniciar o tratamento com Códigos de Cura em 18 de Setembro de 2013, deslocando-se de comboio desde Pombal [1]. Fez até hoje (5/10/2013) 3 sessões de tratamento, uma vez por semana, tendo sido abordadas as dimensões de Perdão, Acções Perniciosas e Crenças não Saudáveis.
Na 2ª sessão, após a primeira semana de tratamento, começou por referir:
– Tive uma semana boa. Ando mais à vontade. De manhã já não fico deitado na cama, acordado, a pensar no que tenho que fazer, sem vontade nenhuma de me levantar. Tenho ideias mais claras, levanto-me para fazer o que tenho a fazer … o tempo corre melhor. Tenho dormido melhor. Ontem tive um dia muito activo a fazer uns trabalhos em casa que eu tencionava entregar a alguém e teria que pagar. Há muito tempo não tinha um dia assim; consegui subir uma escada até à altura de 5 metros, o que antes era impossível com as vertigens e tonturas que tinha.
Pergunto-lhe se sente fisicamente melhor, com mais energia:
– Sem dúvida, responde. Ao fim do terceiro dia de tratamento com os códigos tive uma descarga de intestinos que me deixou leve e bem-disposto. Aquele peso e inchaço na barriga desapareceram. A prisão de ventre fazia-me sentir muito mal, sem forças…
Pergunto-lhe pelos relacionamentos pessoais:
– Estou mais participativo, falo mais com as pessoas. Fui visitar os meus pais [com quem o relacionamento tem sido muito problemático], arranjei um saco de hortaliças do quintal e levei. Ficaram muito felizes e tivemos uma longa conversa, natural e agradável como se nenhum problema existisse entre nós. No fim-de-semana disse à minha filha que iríamos dar um passeio e almoçar fora. Ela reagiu com estranheza – “mas tu nunca queres sair” – e eu respondi que isso era antes.
Perguntei-lhe pelos pensamentos obsessivos sobre experiências traumáticas do passado:
– Chego ao fim do dia e percebo que esses pensamentos me ocorreram algumas vezes. Mas antes esses pensamentos estavam sempre na minha cabeça. Não os conseguia tirar de lá.
Na 3ª sessão o António começa por fazer o seguinte relato:
– Tenho que lhe agradecer tudo que tem feito por mim. Graças ao seu trabalho eu estou a sentir-me muito melhor dia após dia. Esta semana tive um dia com prisão de ventre mas já normalizou. Eu passo o dia a repetir a mensagem de cura que escolho e dou comigo a não pensar em problemas nenhuns. Tenho passado os dias sem pensamentos negativos.
Pergunto-lhe se há alguma mudança na dificuldade de expressar os seus sentimentos e opiniões, quando tem que contrariar outras pessoas:
– Estou mais livre e mais à vontade para dizer o que penso, mas ainda me sinto um bocado preso.
Pergunto-lhe pela sua pouca disponibilidade para as pessoas:
– Noto uma mudança muito rápida; aquela tendência para ficar sozinho em casa está diferente. Saio p’rá rua e vou conversar com amigos e vizinhos, algo que já não fazia há anos. Um vizinho meu teve um grave acidente há mais de um ano e só agora soube disso. Fui ajudar a fazer a vindima de um amigo e trabalhei com gosto o dia todo.
Pergunto-lhe pelos hábitos alimentares, comer em excesso:
– Tenho mais cuidado na escolha daquilo que como. O cheiro a fritos e guisados causa-me enjoos e já não me puxa comer essas coisas.
Pergunto-lhe se há uma decisão deliberada de recusar esse género de cozinhados:
– Não, é interior, vem de dentro. É uma rejeição espontânea, acontece sem eu ter pensado no assunto.
Finalmente o António falou da sua última consulta com o(a) médico(a) psiquiatra:
– O(a) médico(a) ficou muito surpreendido(a) com a minha aparência. Perguntou-me se estava a tomar os medicamentos e eu disse-lhe que não [sem nada me dizer e por sua iniciativa o António tinha deixado de tomar a medicação]. O(a) médico(a) perguntou-me: “- Mas você está outra pessoa de há 4 meses para cá. Que milagre conseguiu arranjar?”
O António acabou por dar a informação do tratamento que estava fazer. A consulta terminou com o médico(a) a pedir explicações e referências sobre os Códigos de Cura.
É de sublinhar que no dia em que o António deu este testemunho, na 3ª sessão, tinham decorrido apenas duas semanas de tratamento com os Códigos de Cura.
Que outra abordagem terapêutica poderia ter causado tal transformação na vida de uma pessoa neste período de tempo?
Sem qualquer medicamento, substância, ou técnica invasiva.
Entretanto decorreu já a 4ª sessão.
O António referiu ter sentido uma forte pressão nos ouvidos e, durante 2 dias, deles escorreu cera de forma espontânea. Reafirmou que “está tudo a correr muito bem, sinto-me melhor em relação a tudo, ando satisfeito e alegre.”
Perguntei–lhe se sentia no seu cérebro maior clareza mental:
– Sim. Eu não tinha qualquer interesse pela leitura, mas mais recentemente comecei a interessar-me por certos assuntos para tentar encontrar um rumo para a minha vida. Eu esforçava-me por ler com atenção, mas ao fim de ler certas páginas eu voltava ao princípio porque não ficava nada. Eu não conseguia compreender o que lia, era como se não tivesse lido. Agora é muito diferente. Leio páginas e páginas seguidas, compreendo sem esforço…ler tornou-se um prazer.
2. Interpretação e conclusões
2.1. Uma transformação radical do padrão de pensamentos do quotidiano[2]
Tem sido comum a todos os pacientes a ocorrência de melhorias muito significativas logo na primeira semana de tratamento. É por isso que as pessoas que o iniciam, logo manifestam uma adesão entusiástica ao processo de cura.
Também com o António isso se está a verificar. Esta pessoa tinha uma vida quotidiana esmagada por pensamentos obsessivos, em torno de uma experiência traumática, ocorrida há cerca de 15 anos. Tinha sido traído por alguém em quem depositava total confiança, de que resultou a sua ruína financeira, a falência e a necessidade de ter de começar tudo de novo (não a partir do zero, mas com dívidas).
No espaço de apenas uma semana esse padrão de pensamento mudou radicalmente. Durante a 1ª semana esses pensamentos ocorreram apenas ocasionalmente e durante a 2ª semana estiveram completamente ausentes.
O trabalho de cura com o código do Perdão é responsável por essa mudança radical dos pensamentos do quotidiano. E daí resultaram grandes melhorias em termos emocionais, nos relacionamentos pessoais, no estado físico e na qualidade das formas de ocupação do tempo. Durante a segunda e a terceira semanas ocorrem melhorias de relevo em termos cognitivos, que permitiram transformar um esforço de leitura frustrante numa actividade significativa e prazerosa. A mudança do estado interior que cria as novas circunstâncias externas.
2.2. Cura emocional e física: um processo energético a nível celular
A chave de todos estes resultados está na cura das memórias celulares destrutivas associadas à experiência traumática. Essa experiência passou a ser recordada quase sem stress emocional, o que está patente numa descida do nível 10 (máximo desconforto emocional) para 1 da escala[3] (Basicamente bem. Nenhum sentimento que seja desagradável de forma significativa).
Expliquemos melhor.
Ao tempo da experiência traumática, o stress celular causado, em vez de reverter ao estado saudável inicial ‘congelou’, tornando-se irreversível. Isso corresponde ao ‘congelamento’ de um estado energético celular destrutivo. Embora o paciente tenha conseguido reagir na altura, recomeçando uma nova vida profissional com grande esforço, vem a cair em depressão incapacitante com a ocorrência de um novo incidente, objectivamente não muito relevante, mas que funcionou como gatilho que disparou uma manifestação de grande intensidade daquele registo negativo inconsciente.
O trabalho de cura do Perdão, em torno da experiência traumática, vai permitir ‘descongelar’ o estado de stress celular, fazendo as células retomar o seu estado inicial saudável. Isso corresponde a uma transformação do padrão energético destrutivo num padrão energético positivo[4], saudável, nas células. Esse processo curativo é consequência de um conjunto de procedimentos que estimulam o sistema neuro-imunológico. Assim se realiza a cura das memórias celulares.
Segundo a nova visão científica da biologia celular, as nossas crenças e padrões de pensamento quotidiano têm correspondência nas células do organismo em termos de padrões energéticos (Lipton, 2008; Loyd, A. & Jhonson, B., 2011). Tais crenças e pensamentos não são pois apenas ‘coisas do cérebro’ e menos ainda coisas de uma mente separada do corpo. Os padrões de pensamento influenciam a fisiologia do organismo por via dos estados energético das célulares, podendo ser mais propícios à saúde ou à doença.
Tendo em conta que temos em média cerca de 6 000 pensamentos por dia (Loyd, A. & Jhonson, B., 2011) e que 90% dos pensamentos de um dia se repetem no dia seguinte, ficamos com uma ideia mais clara de quão importante é construir padrões de pensamentos saudáveis em substituição de padrões de pensamentos não saudáveis.
2.3. Repetição contínua de pensamentos positivos: uma técnica de mudança de padrões de pensamento
Uma técnica que introduzi nos Códigos de Cura foi-me inspirada pelo livro A Course in Miracles. O livro contém 365 lições, uma para cada dia ao longo de um ano. Cada lição apresenta um aspecto particular da nossa visão do mundo e contrapõe depois uma visão contrastante com essa visão de senso comum. Pretende-se em cada dia trabalhar no sentido de uma mudança de perspectiva específica na mente do leitor, como parte de um processo que permita a construção gradual do edifício de uma nova visão global.
Dado o meu estado de extrema necessidade nessa altura, experimentei repetir o pensamento alternativo ao do senso comum, de forma intensiva, de manhã até à noite, a qualquer hora e em qualquer lugar. Essa repetição contínua ao longo do dia produziu comigo excelentes resultados e, por isso, decidi sugerir aos meus pacientes idêntico procedimento em relação ao pensamento de cura que, em cada sessão de tratamento, é por eles selecionado. Vejo que estão sendo obtidos resultados semelhantes aos que eu obtive.
Diz o António, ao fim de duas semanas de tratamento:
– Eu passo o dia a repetir a mensagem de cura que escolho e dou comigo a não pensar em problemas nenhuns. Tenho passado os dias sem pensamentos negativos.
Isto é apenas um detalhe que introduz um certo incremento de eficácia ao sistema dos Códigos de Cura.
Essa contínua repetição cumpre várias finalidades:
i) foca a mente consciente numa única ideia, retirando tempo para a ocorrência de outros pensamentos;
ii) o pensamento de cura, contrastante com o estado interior negativo, vai-se impregnando no inconsciente, por via da repetição, disputando o espaço de pensamentos nocivas;
iii) finalmente, a assimilação pelo inconsciente do pensamento de cura acaba por suprimir os pensamentos nocivos com os quais compete, substituindo-os.
Note-se que quando o inconsciente e o consciente conflituam é o inconsciente que acaba por sair vencedor. Assim sendo, as novas ideias, valores e crenças que deste modo são ‘inoculadas’ resultam na criação de novos padrões de pensamento que põem em linha o inconsciente com a acção consciente . Considerando um outro ponto de vista, esse processo equivale à transformação de padrões energéticos celulares destrutivos em novos padrões energéticos celulares saudáveis.
2.4. Um processo interno espontâneo sem auto-imposições racionais
Um aspecto fascinante dos Códigos de Cura reside no facto de gerarem um processo interno que se projecta para o exterior de forma muito natural e espontânea. A pessoa vê os seus comportamentos, atitudes e acções mudarem sem ter pensado no assunto ou ter tomado qualquer decisão para lhes dar um determinado sentido. Frequentemente a pessoa ao agir de modo muito diferente não está sequer consciente disso e só depois, ao olhar para trás, percebe com surpresa e satisfação quão diferente foi a sua forma de ser.
O António, que vivia um relacionamento muito difícil com os pais, não teve que planear a visita que lhes fez, nem calcular o que haveria que dizer, nem fazer um esforço emocional de superar a mágoa e o ressentimento. Simplesmente estas emoções dissiparam-se e, consequentemente, a visita surgiu como um impulso natural. O encontro, antes apenas casual e lacónica nas palavras, tornou-se agradável e fluente nas palavras e nos afectos.
A nível orgânico é também bastante notório este enraizamento interno das transformações. O paciente fez um trabalho de cura em relação aos seus hábitos alimentares. Não resultou daí qualquer plano de regras dietéticas, ditadas exteriormente, que o paciente se comprometia a respeitar mediante um esforço racional de autodisciplina.
Simplesmente o seu organismo reagiu a determinados alimentos com a sensação de enjoo. A exclusão de tais alimentos da sua dieta não tem de todo o carácter de pesarosa auto-privação de algo que muito gostaria de continuar a comer.
Trata-se de algo da mesma natureza do que desencadeou uma forte pressão nos ouvidos acompanhada da expulsão espontânea de cera.
A mente e o organismo adquirem uma inteligência superior que passa a orientar o sujeito no seu novo caminho da vida.
Referências
Lipton, Bruce H. (2008). The Biology of Belief. Hay House Edition. USA.
Loyd, A.; & Jhonson, B. (2011). The Healing Code. London: Hodder & Stoughton.
Notas
[1] Nas três primeiras sessões o paciente deslocou-se de comboio da sua residência em Pombal, mas as próximas sessões realizar-se-ão via Skype, dado o incómodo e o custo da longa viagem.
[2] Entendemos por pensamentos do quotidiano tudo o que ocorre à mente, sempre que esta não está completa e intencionalmente focada numa tarefa específica. Aí se incluem ideias, percepções, memórias, juízos, crenças, desejos, etc. Os pensamentos do quotidiano podem ser suficientemente perturbadores a ponto de incapacitarem uma pessoa de decidir colocar a sua atenção e concentração em actividades específicas, designadamente de natureza profissional.
[3] O paciente usa uma escala de desconforto emocional de 0 a 10 para se situar quando traz à mente uma determinada situação problemática. Cada nível da escala é caracterizado por um conjunto de descritores
[4] Para uma melhor compreensão dos significados de padrão energético destrutivo e de padrão energético saudável, a nível celular, evoquemos as imagens sonoras de uma agradável melodia e do ruído de uma mota. O padrão energético destrutivo é comparável à energia do ruído da mota e o padrão energético positivo é comparável à energia da melodia. A energia da melodia representa-se por uma onda sonora com uma forma sinusoidal, ou mais propriamente por uma composição de diferentes sinusoides sobrepostas – há harmonia nessa representação. Pelo contrário, a energia do ruído da mota representa-se por um traçado disforme e desordenado – em vez de harmónica nessa representação é caótica.