Luis (nome fictício), 32 anos, sofre da síndrome do cólon irritável desde 2007. Isso traz-lhe situações de grande desconforto e sérias limitações na sua vida diária a nível pessoal, familiar, social e profissional.
Todas as manhãs antes de sair para o trabalho, entra num estado de stress que o obriga a uma rotina de vai-e-vem à casa de banho com crises de diarreia. Já depois de descer as escadas chega a ter que subir para voltar à casa de banho, chegando a demorar uma hora entre o momento em que está pronto para sair e o momento em que consegue realmente sair. É de notar que não há no seu trabalho nada que possa gerar desagrado ou ansiedade.
Para além do mal-estar e perda de tempo que esta situação acarreta, o Luis vê-se impedido de poder ajudar a cuidar dos filhos antes de irem para a escola. Sente-se nervoso e constrangido em situações sociais em que subitamente tem que ir à casa de banho. Numa viagem que implique o recurso à auto-estrada a ideia não poder socorrer-se de uma casa de banho logo à margem da estrada, deixa-o inseguro, ansioso e com suores.
1. A cura de cólon irritável numa única sessão de tratamento
Agendámos a primeira sessão de cura para 20/11/2014. Pedi ao Luis que focasse a sua mente numa das situações que habitualmente eram geradoras do stress próprio da insegurança de não ter ou deixar de ter uma casa de banho por perto. Imaginada a situação, o Luis deu mostras de que as emoções se manifestaram imediatamente em si. Com essas emoções em presença, orientei o Luis a fazer o trabalho de Healing Power Virus, durante cerca de 8 minutos, com o propósito de dissolução e supressão do medo e ansiedade característicos daquele estado de stress. Em seguida, tendo em mente a mesma situação, orientei-o no trabalho de Healing Power Source, cujo propósito é o de recriar um cenário de normalidade, de prazer e bem-estar, em substituição das imagens negativas anteriores. Para o efeito recorre-se a palavras, visualizações apropriadas e exercícios de respiração acelerada.
No final da aplicação das duas técnicas, o Luís visualizou novamente a referida situação e concluiu que já não sentia o stress que experimentara no início. Era um bom começo, pensei eu.
Após este breve tratamento de 15 minutos, apliquei uma sessão de Cura Reconectiva de 30 min e foi agendada nova sessão para uma semana depois.
Todavia, esta nova sessão já não foi necessária. Em contacto telefónico, uns 6 dias depois, o Luís garantiu que nunca mais voltara a ter uma crise (stress e correrias repetidas para a casa de banho) e vivia o seu quotidiano sem se lembrar sequer do problema que tanto o apoquentava há 7 anos. Desde a única sessão de cura realizada, pela manhã levantava-se, fazia a sua higiene, vestia-se, tomava o pequeno-almoço e saía naturalmente para o trabalho sem qualquer incidente que fizesse lembrar o que era a sua aflição habitual. A cura foi definitiva: passado mais de um anoa nenhuma crise ocorreu em quaisquer outras circunstâncias.
Conclusão: a síndrome de cólon irritável foi eficazmente tratada numa única sessão. Isso surpreendeu-me e mais me alertou para um facto: há curas realmente instantâneas.
2. Da doença à cura de cólon irritável
Na breve conversa que tivemos, no início da sessão, o cliente falou do desconforto e das manifestações da síndrome de cólon irritável no seu quotidiano. Em dado momento relatou um determinado acontecimento ocorrido justamente em 2007, antes de lhe ser diagnosticada a doença.
O avião em que regressava de férias com a namorada estava prestes a aterrar em Lisboa. Teve a intenção de ir à casa de banho do avião no momento em que a hospedeira de bordo deu instruções para que os passageiros apertassem os cintos. O Luis ficou hesitante, acabando por concluir que era inevitável ter que esperar pela aterragem e ir à casa de banho depois de sair do avião.
Com o tempo a passar, instalou-se-lhe a preocupação de que provavelmente não iria aguentar até chegar a tempo ao seu porto-seguro – a primeira casa de banho que encontrasse. O sentimento de urgência de ir à casa de banho crescia à medida que cresciam o esforço de auto-controlo, a ansiedade e o medo de passar por uma situação de grande embaraço; enfim, uma situação de grande stress.
Quando, finalmente, as portas do avião se abriram precipitou-se para a saída e desceu as escadas a correr, sentindo já muito próximo o momento de pôr fim ao sofrimento por que estava a passar. Atravessou todo o hangar até às instalações do aeroporto e na hora mais inconveniente deparou-se com uma fila de 300 pessoas para o controlo dos passaportes. Não podia mais… ia finalmente perder o controlo dos esfíncteres, perante toda aquela gente. Que horror! Não podia ser. Num último esforço decidiu passar toda a fila adiante e ao ser abordado pelos agentes de polícia, nos postos de controlo, apresentou como facto consumado que não podia parar e voltaria depois de encontrar uma casa de banho. Seguiu em frente e assim pôs termo a uma experiência tão dura de suportar.
Esta espera pela casa de banho, geradora de grande ansiedade e medo (a imagem de defecar nas calças e num espaço público, pode ter gerado um sentimento de pânico) foi uma experiência emocionalmente muito penosa que ficou registada no inconsciente desta pessoa – ficou gravada no cérebro emocional, o sistema límbico. Isto corresponde à formação de uma memória traumática.
Em consequência dessa memória, novas experiências ou circunstâncias, que se assemelham àquelas em que ocorreu aquele elevado desconforto emocional, geram uma associação que desencadeia um desconforto emocional da mesma natureza do original. A semelhança de uma situação presente com a do passado funciona como gatilho que desencadeia a repetição do estado emocional do passado.
É provável que o subconsciente do Luís tenha gravado o seguinte registo: sempre que estejas numa situação em que precises de esperar um tempo, que não depende de ti, para ir à casa de banho, estás na eminência de te sujeitar ao vexame de fazeres as tuas necessidades fecais em público – um grande desconforto e tremenda vergonha e humilhação.
A cura requer pois a supressão no inconsciente do registo das emoções negativas que foram geradas por uma determinada experiência passada. Quando essas emoções são removidas as novas experiências, que possam ter uma associação com determinada experiência anterior, deixam de provocar a repetição do stress porque a memória dessa experiência deixou de ser uma memória traumática. Foi este processo que permitiu a cura da síndrome do cólon irritável do Luis, numa só sessão de tratamento.
3. O mecanismo involuntário de associação e repetição do stress
Podemo-nos questionar sobre a real semelhança entre a experiência ocorrida no aeroporto e a saída de casa pela manhã ou o entrar numa auto-estrada.
A resposta é que quando temos uma memória traumática basta um certo grau de semelhança das novas experiências com a experiência traumática para que a associação ocorra. A maior ou menor semelhança depende da quantidade de adrenalina produzida no organismo como consequência da experiência traumática (Loyd, 2011). Quanto mais grave for a experiência traumática, maior será a quantidade de adrenalina produzida, e menor será o grau de semelhança necessário para que novas experiências desencadeiem estados emocionais similares ao original. Isso significa que o número e a diversidade de novas experiências que desencadeiam uma nova crise emocional é tanto maior quanto mais grave tiver sido a crise emocional original.
No caso deste cliente, poder-se-á dizer que a saída de casa para o trabalho não tem semelhança com a experiência de chegada ao aeroporto antes relatada. Mas na verdade há semelhança: ao sair de casa deixa de ter uma casa de banho por perto o que funciona como gatilho despoletador de um estado de ansiedade e medo inerentes ao esforço de autocontrolo e à perspectiva de eventualmente passar por uma situação de grande embaraço. E assim, também a entrada numa auto-estrada é igualmente ameaçadora e inquietante, dado o facto de as casas de banho só existirem nas estações de serviço.
O elemento essencial da situação traumática é a impossibilidade de dispor de uma casa de banho e essa circunstância terá produzido no organismo grandes quantidades de adrenalina, de tal modo que todas as novas circunstâncias em que esta pessoa se sinta constrangida na sua liberdade de usar uma casa de banho se revelam ameaçadoras.
Há ainda uma questão à qual interessa responder:
– por que motivo a pessoa, não usa da sua racionalidade para reconhecer que as novas situações não contêm a ameaça da situação do aeroporto, sendo por isso injustificável entrar em stress, passando a adoptar um comportamento normal perante tais situações?
Importa começar por dizer que em grande parte de problemas desta natureza as pessoas não têm consciência da relação existente entre o stress presente e o stress do passado – essa associação estabelece-se no plano da mente inconsciente. Mas mesmo que a pessoa tenha essa consciência, isso não é suficiente para que seja superada a repetição no presente do stress do passado. Acontece que quando uma memória traumática é reactivada a consciência e o pensamento racional são “desligados” ou consideravelmente diminuídos, pelo que o cérebro dá uma resposta automática que desencadeia o estado de stress (Loyd, 2001). A actividade do cérebro emocional (o sistema límbico localizado na região mais profunda do cérebro) toma o comando, sobrepondo-se à actividade do cérebro racional, o neocórtex, de forma a bloquear o limitar a capacidade de acção consciente (Servan-Schreider, 2009).